Perfil - 03 / 01 / 08

Parte II
Grandes Mudanças

Aspirando a um nível de detalhe raramente visto, MISADVENTURES OF FLINK, nome com que o projecto de estreia na Psygnosis foi baptizado, também foi lançado num formato superior quer no Mega CD quer no Amiga CD 32. Mais uma vez o génio de Nieborg saltava à vista através de um colorido impensável na 16-Bit da SEGA assim como a utilização de algumas das mais refinadas técnicas de scrolling, nomeadamente o parallax scrolling, técnica omnipresente nos seus jogos. No seu site, o pixel artist holandês recorda que este foi o primeiro trabalho cuja totalidade dos gráficos tinham sido desenhados por ele e portanto um grande salto desde os tempos da Thalion.

THE MISADVENTURES OF FLINK (1993) possuia um universo típico que aludia a alguns mitos rurais e folclore nórdico. O seu visual, como pode ser comprovado nesta imagem, contribuiu para dissolver o mito de que a Mega Drive tinha uma paleta de cores muito reduzida.

Se por um lado o desenvolvimento de FLINK decorreu na normalidade e sem atrasos, já o acolhimento do público foi pobre, sobretudo devido à extrema dificuldade do jogo e falta de marketing. Para os críticos, em geral, o jogo pontuou alto, sobretudo pela sua estética original, banda sonora melódica e pelo sistema de jogo efectivamente diferente dos restantes títulos de plataformas disponíveis no mercado.

Continuando o seu trabalho na Psygnosis, Henk e Erwin tiveram a hipótese de poder explorar o universo LEMMINGS, um dos jogos de maior sucesso comercial e crítico da produtora de Liverpool. Não obstante das várias mudanças que o jogo sofreu ao longo dos anos, THE ADVENTURES OF LOMAX, lançado originalmente para Playstation e posteriormente para o PC, continua a ser o representante mais distinto do nível de qualidade atingido por Erwin e Henk.

Preservando o esquema de jogo de FLINK, LOMAX, inspirado pelos desenhos da série LEMMINGS, foi o pico da carreira da parelha Nieborg/Kloibhofer, o seu jogo mais popular e sem dúvida um dos paradigmas do jogo de plataformas 2D da história.

Para Nieborg, este foi o seu título mais pessoal e sem dúvida aquele em que conseguiu alcançar a máxima expressão do seu talento. O nível de minúcia generalizada dos fundos e sprites espelham as condições de um projecto sem restrições para Henk, onde não foram impostos limites de tempo para que ele exercesse a sua função artística. LOMAX revela o seu génio e a sua obsessão, as suas potencialidades e a sua predisposição singular para complementar cada espaço com um número de detalhes impossíveis de absorver à primeira vista. Henk Nieborg desenha e retoca sem limitações conscientes, como se o seu trabalho fosse uma extensão da própria escola de pintura flamenga do renascimento: como van Eyck com a pintura a óleo, Nieborg inovou a arte al pixel através da abundância de tons, luminosidades e rigor formal. Toda a sua arte traduz a paixão pelo desenho e o apreço especial por cada pixel, por cada ponto de cor e luz que invade o ecrã.

Para além do incremento da resolução dos bitmaps e dos zooms, a Playstation também permitiu voos mais altos no que diz respeito à mecânica de jogo, inaugurando um estranho, porém arrojado, sistema de níveis paralelos em diferentes planos: Lomax, o personagem, podia deslocar-se em profundidade a determinadas alturas, passando a acção do jogo para um plano bidimensional posterior.

Eis uma altura em que a própria imagem estática falha em captar a sumptuosidade dos cenários e das animações: nevoeiro com transparência, parallax scroll e uma água ondulante que faz a maioria dos filmes de animação tradicional empalidecer perante tanta suavidade e consistência.

Depois de sete anos de colaboração, os dois colegas seguiram os seus caminhos regressando aos seus países de origem. Nieborg desistiu, nesse ano de 1997, da pixel art para se dedicar a outras áreas de interesse e investir o dinheiro que tinha feito com o seu último jogo. O webdesign foi uma das áreas alternativas em que investiu, tendo criado a sua própria loja de DVDs online, assim como uma companhia de produções internet (Tribute) e o seu próprio website onde conta, saudosamente, o percurso da sua vida e partilha a sua arte. Estes novos projectos ajudaram a conferir alguma variedade à sua carreira, porém um ano mais tarde, em 1999, Nieborg sentiu a falta de algo na sua vida: pixels.

Surpreendentemente, Nieborg começou a trabalhar nos gfx da adaptação à portátil da Nintendo da segunda parte do filme Harry Potter antes do primeiro filme ter sido lançado. (Fonte da imagem: PixInSpace).

Ainda que num ritmo inteiramente diferente daquele com que lidou no início da sua carreira, Henk Nieborg continuou ligado aos jogos de vídeo nos últimos anos, tendo colaborado com a Eurocom na adaptação do filme ATLANTIS para o Gameboy Color (onde claramente homenageia os pixel artists da saga METAL SLUG) e na adaptação ao Gameboy Advance do filme HARRY POTTER AND THE CHAMBER OF SECRETS – dois exemplos de que ainda mantém a sua técnica a um nível muito apurado. Não é por mero acaso que Henk participa em dois títulos de consola portátil: num mundo cada vez mais dominado pelos gráficos poligonais 3D, a sua principal perícia original encontra cada vez menos demanda.

Exemplo de arte conceptual criado para o projecto SEGA TEAM TIME CRYSTALS para a PS2. (Fonte da imagem: PixInSpace)

De forma a poder continuar a expressar-se no seu próprio meio fundou a PixInSpace, uma companhia em crescimento sedeada na Holanda, especializada em diversos tipos de design. O seu curto currículo inclui diversos trabalhos como criação de personagens, fundos e ícones 2D, ambientes 3D ou arte conceptual: a prova do dinamismo e adaptabilidade de Henk, posto à prova pela evolução de uma indústria que ajudou a estabelecer.

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