FLOOR 13
Os Meandros do Poder



COReplay - 29/ 05 / 07

 

"A ilusão é um estado da mente e a mente do Estado"

James Jesus Angleton
Director do Departamento de
Contra-Espionagem da CIA 1954-1974

Bem-vindos aos bastidores secretos do poder. Sob a fachada de um fictício "Ministério da Agricultura e Pescas" somos responsáveis por um departamento obscuro que zela pela manutenção da boa imagem pública do Primeiro-Ministro inglês. À nossa disposição estão meios e métodos para agir rapidamente e para evitar que os escândalos e desaires do governo surjam nas parangonas dos jornais. A ilusão é mesmo a nossa melhor arma, desinformar e difamar são a via para a derrota dos adversários.

Assim começa FLOOR 13, o único videojogo que permite controlar o fluxo do poder com apenas três teclas do PC. As situações são complexas mas a simplicidade é magnífica. Afinal o gráfico diz tudo: somos "Nós" contra "Eles" e convém a nossa barra estar bem no topo.

Os pormenores são soberbos: a apresentação a preto e branco, a formalidade dos ecrãs, a secretária desarrumada e manchada das chávenas de café. FLOOR 13 é quase exclusivamente text-based, uma forma um pouco mais evoluída de interactive fiction em que a mecânica de jogo é praticamente igual à do jogo anterior da Virgin Interactive CONFEDERATION - MIDDLE EAST POLITICAL SIMULATOR (já aí nos pediam para sermos líderes de Israel na sua luta eterna contra a animada vizinhança árabe e com armas nucleares à mistura).

Temos acesso a notícias de jornais, relatórios dos serviços secretos e a fichas biográficas de pessoas e organizações (a ler atentamente pois os detalhes sórdidos das vidas dos suspeitos são deliciosos). Aqui reside a grande mestria deste videojogo: a inexistência de gráficos complexos - apenas são utilizadas algumas imagens estáticas de fundo - deixa um grande espaço para a imaginação do jogador. Não se espantem por isso se a foto de um fleumático apoiante do partido no poder seja, mais adiante, exactamente a mesma que ilustra a cara de um traficante de armas alemão.

As ameaças são diversas, desde grupos terroristas que põem em perigo a segurança nacional, a indivíduos suspeitos apenas por serem membros da oposição ao governo, passando por escândalos iminentes ligados a ministros e suas respectivas secretárias pessoais, tudo polvilhado com uma grande dose de humor negro. Há desde acontecimentos inspirados na realidade (a morte de uma personagem por enforcamento na ponte de Blackfriars com a sigla P2 escrita na parede é a recriação da morte do banqueiro italiano Roberto Calvi em Londres), mas também outros mais escabrosos como grupos de extremistas que pretendem erradicar os cães da face da terra ou um outro que lança drogas alucinogénicas no fornecimento público de água - mais uma vez a metáfora da grande alucinação.

Para combater os adversários do poder vigente podemos colocar escutas telefónicas, seguir suspeitos, fazer buscas domiciliárias (mais ou menos violentas), mandar raptar alguém para uma "conversa" animada com instrumentos de tortura pelo meio ou, no limite, ordenar um assassinato. A gestão destas acções deve ser cuidadosa: demasiados desaparecimentos de pessoas proeminentes ou assassinatos na via pública levarão à ira do PM britânico. O despedimento é uma possibilidade (veja-se magnífico o pormenor em que a capa de um jornal afirma que o ministro da agricultura e pescas resignou por se querer dedicar mais à família), mas pior será se formos interpelados por Mr. Garcia, uma visita que acaba sempre com o nosso corpo a ser encontrado na rua após uma aparatosa queda de 13 andares de altura. Para engrossar a narrativa há um misterioso membro de uma sociedade secreta, de estilo maçónico, que aparece em vestes de inspiração egípcia e nos pretende recrutar para as suas fileiras.

A atmosfera é brilhante, o humor corrosivo e, apesar do minimalismo na execução técnica, é garantido que nenhum outro videojogo nos permite ser tão poderosos com tão pouco esforço.

 

A Virgin Interactive foi uma produtora chave durante as décadas de 80 e 90. Publicando trabalhos para as mais diversas plataformas, contribuiu para o desenvolvimento da Westwood Studios (Command & Conquer, Blade Runner e Lands of Lore) e foi o berço de figuras fulcrais da história dos videojogos como David Perry e Tommy Tallarico. Alguns dos títulos mais míticos que publicaram foram Global Gladiators, Aladdin, Cool Spot, Cannon Fodder e Resident Evil. Desde 1999 a empresa foi incorporada na Electronic Arts.

No decorrer do jogo temos acesso ao nome do nosso predecessor nada mais, nada menos do que Richard Branson, o multimilionário proprietário do grupo Virgin e produtor do jogo.

Este jogo é abandonware e portanto pode ser descarregado da Internet livremente aqui

 

 

 

 
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