"A
ilusão é um estado da mente e a mente do Estado"
James Jesus Angleton
Director do Departamento de
Contra-Espionagem da CIA 1954-1974
Bem-vindos
aos bastidores secretos do poder. Sob a fachada de um fictício
"Ministério da Agricultura e Pescas" somos responsáveis
por um departamento obscuro que zela pela manutenção
da boa imagem pública do Primeiro-Ministro inglês. À
nossa disposição estão meios e métodos
para agir rapidamente e para evitar que os escândalos e desaires
do governo surjam nas parangonas dos jornais. A ilusão é
mesmo a nossa melhor arma, desinformar e difamar são a via
para a derrota dos adversários.
Assim
começa FLOOR
13,
o único videojogo que permite controlar o fluxo do poder com
apenas três teclas do PC. As situações são
complexas mas a simplicidade é magnífica. Afinal o gráfico
diz tudo: somos "Nós" contra "Eles" e convém
a nossa barra estar bem no topo.
Os
pormenores são soberbos: a apresentação a preto
e branco, a formalidade dos ecrãs, a secretária desarrumada
e manchada das chávenas de café. FLOOR
13
é quase exclusivamente text-based, uma forma um pouco mais
evoluída de interactive fiction em que a mecânica de
jogo é praticamente igual à do jogo anterior da Virgin
Interactive CONFEDERATION
- MIDDLE EAST POLITICAL SIMULATOR
(já aí nos pediam para sermos líderes de Israel
na sua luta eterna contra a animada vizinhança árabe
e com armas nucleares à mistura).
Temos
acesso a notícias de jornais, relatórios dos serviços
secretos e a fichas biográficas de pessoas e organizações
(a ler atentamente pois os detalhes sórdidos das vidas dos
suspeitos são deliciosos). Aqui reside a grande mestria deste
videojogo: a inexistência de gráficos complexos - apenas
são utilizadas algumas imagens estáticas de fundo -
deixa um grande espaço para a imaginação do jogador.
Não se espantem por isso se a foto de um fleumático
apoiante do partido no poder seja, mais adiante, exactamente a mesma
que ilustra a cara de um traficante de armas alemão.
As
ameaças são diversas, desde grupos terroristas que põem
em perigo a segurança nacional, a indivíduos suspeitos
apenas por serem membros da oposição ao governo, passando
por escândalos iminentes ligados a ministros e suas respectivas
secretárias pessoais, tudo polvilhado com uma grande dose de
humor negro. Há desde acontecimentos inspirados na realidade
(a morte de uma personagem por enforcamento na ponte de Blackfriars
com a sigla P2 escrita na parede é a recriação
da morte do banqueiro italiano Roberto Calvi em Londres), mas também
outros mais escabrosos como grupos de extremistas que pretendem erradicar
os cães da face da terra ou um outro que lança drogas
alucinogénicas no fornecimento público de água
- mais uma vez a metáfora da grande alucinação.
Para
combater os adversários do poder vigente podemos colocar escutas
telefónicas, seguir suspeitos, fazer buscas domiciliárias
(mais ou menos violentas), mandar raptar alguém para uma "conversa"
animada com instrumentos de tortura pelo meio ou, no limite, ordenar
um assassinato. A gestão destas acções deve ser
cuidadosa: demasiados desaparecimentos de pessoas proeminentes ou
assassinatos na via pública levarão à ira do
PM britânico. O despedimento é uma possibilidade (veja-se
magnífico o pormenor em que a capa de um jornal afirma que
o ministro da agricultura e pescas resignou por se querer dedicar
mais à família), mas pior será se formos interpelados
por Mr. Garcia, uma visita que acaba sempre com o nosso corpo a ser
encontrado na rua após uma aparatosa queda de 13 andares de
altura. Para engrossar a narrativa há um misterioso membro
de uma sociedade secreta, de estilo maçónico, que aparece
em vestes de inspiração egípcia e nos pretende
recrutar para as suas fileiras.
A
atmosfera é brilhante, o humor corrosivo e, apesar do minimalismo
na execução técnica, é garantido que nenhum
outro videojogo nos permite ser tão poderosos com tão
pouco esforço.