THE DARK EYE
Malevolência



COReplay - 15 / 03 / 08

 


I. UM ACTO, SEIS CENAS E DUAS METADES

Para Russ Lees, tratava-se de um projecto experimental. Atraído até ao universo da produção de videojogos através de um velho amigo, este engenheiro informático por formação académica e dramaturgo por paixão assinou um dos projectos mais ambiciosos de que há memória no meio, um ensaio que se iniciou de forma hesitante e que assumiu uma proporção inusitada até hoje. Explorando um género em crescimento, o da aventura gráfica, inflamada pelas novas possibilidades multimédia do CD-ROM, o estúdio da Inscape abordou a obra do excelso Edgar Allan Poe numa das primeiríssimas adaptações das escritas do autor norte-americano para o universo vídeolúdico.

THE DARK EYE caracteriza-se pela sua interactividade atípica dentro de um género narrativo secular, o dos contos de terror, penetrando pelos mais recônditos locais da mente Humana. Numa tentativa de recriar a célebre obra do autor ‘A Queda da Casa de Usher’, Lees escreve um esquiço de um projecto conjunto com o seu amigo de longa data, Michael Nash, na incerteza dos resultados do seu trabalho. A casa isolada pelas águas circundantes é o ponto de partida para uma jornada espiritual de um personagem anónimo, cuja presença parece despertar as mais trágicas ocorrências entre o já destabilizado seio familiar. Estes eventos retribuem em si uma anómala predisposição para entrar em contacto com memórias perdidas de morte, de dor e de demência que se simbolizam por objectos dispersos pelas divisões da casa.

Apaixonado da obra de Poe, a qual conhece na sua íntegra, Lees peneirou dezenas de poemas e contos na tentativa de determinar quais se coadunavam com a natureza reactiva do cenário de jogo, onde o controlo simples do ponteiro se desdobra em múltiplas possibilidades. Porém os devaneios entre psiques inquietas extravasam o âmbito do formato escrito do autor, perspectivas circunspectas ao instinto do homicida, proporcionando a vivência mediante a óptica antagónica onde o jogador encarna a personagem vitimada. Esta opção verdadeiramente única postula um novo formato de exposição narrativa coerente, instilando em simultâneo uma intuição alternativa no jogador que progride por entre os diversos capítulos soltos, sustentado apenas pela subjectiva correlação de incidentes.

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O capitólio artístico de THE DARK EYE reside não apenas na arrevesada malha diegética, outrossim na excepção audiovisual auxiliada por notáveis trabalhos de vários criadores desde a direcção artística de Rebekah Behrendt, o acompanhamento sonoro de Thomas Dolby e o seu estúdio Headspace, ou mesmo o talento de voz doado pelo autor ‘beat’ William S. Burroughs, excepcional na declamação de ambos os poemas contidos no jogo. A reunião de talentos por detrás desta produção inclui diversas técnicas de pintura, desenho e escultura, abrangendo a “renderização” dos cenários e objectos em 3D assistida por computador, ilustrações monocromáticas e coloridas, foto-montagens, ‘stop motion’ para a animação dos personagens e pintura a óleo.

 

II. Personas >>



> Da ponderação introdutória do personagem: “For the wild narrative which I’m about to tell, do neither expect nor ask for belief: it would be mad to ask for such a thing, in a case where my own senses reject their evidence. And yet I’m not mad, and I surely do not dream.”

 

 

> Formada em 1995, a Inscape é um estúdio responsável por alguns dos mais originais títulos de aventura no PC como o célebre Residents: Bad Day on the Midway ou Drowned God.


 

> Edgar Allan Poe (1809-1849) acumulou, para além da função de escritor de contos, as melhores referências como poeta, editor e crítico literário. Muitos acreditam que Poe partilhava a sua insanidade com a das suas personagens.

 

 

 


 

> O acto impera sobre o motivo: na história 'Cask of Amontillado' o personagem tão apenas releva o seu ódio pelo seu próximo e descreve o seu acto medonho, omitindo justificações concretas para o seu rancor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





> Ilustrações para a declamação do poema "The Red Death" por William S. Burroughs a partir de um vitral oculto que releva a temática da morte por via da tuberculose.

 

 

> William S. Burroughs era um dos mais eminentes autores da geração 'beat', autor de 'Naked Lunch' e muitas outras obras de referência da década de 50 e inícios de 60. O seu excepcional talento vocal permanece presente em The Dark Eye, gravado dois anos antes do seu falecimento.

 
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