A ousadia não compensa?!
Um apelo cívico a premiar a originalidade e a ousadia



Corevision - 28 / 05 / 07

 

É prática corrente por parte dos jogadores confirmados, os coregamers, culpar exclusivamente as editoras e os estúdios de desenvolvimento pela falta de ousadia das produções vídeo lúdicas. Mas na verdade não existirá um responsável com um grau de culpa superior?! Quem consome as produções insípidas não terá também uma grande responsabilidade?! Não se pode imputar em exclusivo a responsabilidade as editoras e aos estúdios de desenvolvimento. A produção de um jogo actualmente atinge valores astronómicos, em recursos financeiros e humanos, sendo necessário vender cada vez mais unidades para rentabilizar um projecto. Cada projecto transforma-se num risco capaz de abalar totalmente a estrutura de uma editora em caso de fracasso comercial.

Face a essa situação, as editoras reiteram sem fim os projectos de maior sucesso. É compreensível. Menos compreensível é a atitude dos jogadores, melhor dizendo dos consumidores, que se conformam com a situação e que legitimam a não tomada de risco ao comprarem sequelas sem fim e ao ignorarem os projectos novos e ousados. Não faltam jogos diferentes e projectos ousados. Faltam claramente jogadores com abertura de espírito, preparados para experiências diferentes e descobrir novos universos. Os jogadores são infelizmente em regra retrógrados, apegados a mecanismos e universos rebatidos. Parece existir uma linha condutora, um politicamente correcto vídeo lúdico. Caso um projecto se afaste dessa linha condutora é ostracizado. Dificilmente um projecto pode inaugurar um aspecto gráfico diferente, um gameplay totalmente novo ou explorar um universo diferente dos habitualmente usados sem ser penalizado pelos jogadores.

É interessante analisar o caso da Capcom nesta última geração de consolas. Criticada por reiterar sem fim as suas séries de sucesso, a Capcom surpreendeu nesta última geração sendo sem dúvida uma das editoras mais criativas e ousadas. Inaugurou novas séries, apoiou projectos realmente inovadores e revolucionou séries em decadência. O estúdio mais interessante foi sem dúvida a Clover Studio, responsável por títulos como OKAMI e GOD HAND. O mais interessante é que era composto pela elite da editora japonesa e liderado por Atsushi Inaba, responsável por projectos como VIEWTIFUL JOE e TEKKI. Os frutos colhidos pela ousadia da Capcom foram resultados financeiros medíocres que obrigaram a uma reestruturação da empresa. Reestruturação que implicou o encerramento de vários estúdios, inclusive do talentoso Clover Studio. O estado actual da Capcom não deixa de ser preocupante. Além dos resultados financeiros, a Capcom foi vítima de uma fuga de cérebros e persistem rumores de fusão ou de aquisição da mesma. Podemos falar de “custos da ousadia” dos quais foi vítima a Capcom.

A pergunta que surge é, que exemplo constitui o encerramento da Clover Studio? Que mensagem passa o exemplo da Capcom as restantes editoras? Que a ousadia não compensa? É um claro apelo a reiteração de mecanismos e universos rebatidos. Como se não houvesse futuro possível para a ousadia, como se fossemos condenados a prazo a comermos todos a mesma sopa insípida.

O oxigénio começa a ser escasso no oceano vermelho. A ousadia não tem futuro nessas águas, sendo obrigada a migrar. Mas donde virá a salvação? Curiosamente, a salvação parece vir dos chamados não-jogadores, aqueles que nada percebem de jogos mas que têm abertura à ousadia e a novos conceitos. A ousadia não tem futuro no oceano vermelho, é obrigada a migrar e tentar a sua sorte no oceano azul. Mas será que a ousadia tem futuro nessas águas? De longe um lago pode parecer um oceano e aquilo que é visto hoje com uma esperança pode não passar de uma miragem. Consequentemente, a coregamer não pode deixar de apelar todos os coregamers à premiar a originalidade e a ousadia vídeo lúdica, fazendo minhas as palavras do mítico Jeff Minters: “comecem a utilizar o vosso dinheiro como um voto para castigar as sequelas intermináveis e premiar a originalidade e a ousadia”.

Não se esqueçam: “De l'audace, encore de l'audace, toujours de l'audace et la patrie sera sauvée”.

 


 
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